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Pesquisa com participação da UFPB aponta que biodiversidade é negligenciada na alimentação de grupos sociais no Brasil
A ‘Biodiversidade é negligenciada na alimentação de diferentes grupos sociais no Brasil’. Este é o título do artigo científico publicado em maio deste ano, por um docente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), professor Sávio Marcelino Gomes, do Departamento de Nutrição (DEPNUT), do Centro de Ciências da Saúde (CCS), e por outros cientistas de diversas universidades brasileiras, na revista internacional Scientific Reports, uma das publicações do grupo Nature.
No estudo, os pesquisadores estimaram a prevalência de consumo de alimentos biodiversos no Brasil e investigaram os fatores socioeconômicos que influenciam seu consumo em todo o país. Para isso, os autores utilizaram dados públicos disponíveis no Inquérito Nacional de Alimentação no Brasil, um módulo da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Colaboraram também para a pesquisa cientistas de diversas universidades brasileiras, como Viviany Moura Chaves, Elias Jacob de Menezes Neto, Gabriela de Farias Moura e Michelle Cristine Medeiros Jacob, todos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), além de Rômulo Romeu Nóbrega Alves, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Filipe de Oliveira Pereira, da Universidade Estadual de Campina Grande (UFCG), Aline Martins de Carvalho, da Universidade de São Paulo (USP), Elenilma Barros da Silva, da Universidade Federal do Pará (UFPA), Leonardo da Silva Chaves, da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e Ulysses Paulino de Albuquerque, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
No tratamento dos dados para o desenvolvimento da pesquisa, o grupo de cientistas contou com o auxílio de ferramentas da área de inteligência artificial explicável (Explainable AI), que foram operadas pelo professor Elias Jacob, do Instituto Metrópole Digital (IMD), vinculado à UFRN.
“Utilizamos um modelo de aprendizado de máquina para ajudar na nossa análise de dados. Treinamos o modelo para aprender e compreender como as variáveis socioeconômicas poderiam explicar o consumo de alimentos biodiversos, especialmente as plantas alimentícias não convencionais. Em seguida, analisamos a importância de cada variável e suas combinações em relação ao resultado”, esclarece Sávio.
A pesquisa considera como alimentos biodiversos as plantas alimentícias não convencionais, a partir de um consenso de especialistas em plantas desse tipo, além de cogumelos comestíveis (crus, em conserva ou utilizados em preparações alimentícias como ingredientes) e carnes de caça derivadas de animais silvestres colhidas para subsistência ou comércio, excluídos peixes.
Conforme Sávio, o artigo é a primeira publicação científica nacional a mensurar a parcela de contribuição de alimentos da biodiversidade na dieta dos brasileiros. Os resultados obtidos demonstram que há uma discrepância entre a biodiversidade do país, conhecido por ser o habitat de diversas espécies, e sua representação nos hábitos alimentares dos brasileiros.
“Mostramos que o consumo de alimentos biodiversos no Brasil é baixo, relatado apenas por 1,3% da população, variando conforme região, etnia, idade, insegurança alimentar, sexo e escolaridade”, afirma o docente.
Tendência à uniformidade na alimentação
Na pesquisa, o grupo de cientistas brasileiros chama a atenção para uma tendência em direção à uniformidade dos suprimentos de alimentos em todo o mundo, sobretudo em países de baixa e média renda, o que torna a composição das dietas cada vez mais semelhante a nível global. Baseados em outros estudos sobre o tema, os cientistas afirmam que cinquenta commodities agrícolas, como trigo, milho e arroz, contribuem com 90% das calorias, proteínas e gorduras consumidas no mundo, e esse fato reforça ainda mais a tendência de homogeneização observada.
A diversificação da alimentação, especialmente com alimentos biodiversos, pode ajudar no consumo de micronutrientes essenciais. Citando outro trabalho realizado em áreas rurais da Tanzânia, país da África, os cientistas demonstram que, embora os alimentos biodiversos respondam por apenas 2% do total de energia fornecida aos consumidores, a contribuição percentual deles é maior na obtenção de componentes nutricionais como a vitamina A (31%), vitamina C (20%) e ferro (19,9%).
“Apesar de não termos avaliado micronutrientes em nosso estudo, as evidências sugerem que quanto maior a riqueza de espécies de alimentos da biodiversidade local consumimos, mais acesso a micronutrientes teremos”, avalia o professor Sávio.